Moradores de São Paulo há 12 anos e pais do Heitor (8) e da Olívia (3), os gaúchos André Corrêa e Renata Lacerda encararam um desafio em outubro de 2017: foram com as crianças para o deserto do Atacama, no Chile, um dos lugares mais secos do mundo. E contam para a gente como foi:
Conhecer o deserto do Atacama sempre foi um desejo nosso e quando surgiu a oportunidade (leia-se passagens aéreas com preços sensatos para Santiago, capital do Chile), não pensamos em outra coisa: estender a viagem para o Atacama. Daí começaram nossas dúvidas: Como levar duas crianças pequenas, 8 e 3 anos, para o deserto? Existem atrações para os pequenos? É seguro? É cansativo?
Com muitas dúvidas e poucas respostas, encontramos uma agência que é especializada em turismo de aventura na América do Sul. A partir daí compreendemos que para o Atacama existem praticamente dois tipos de turismo: “O mochileiro”, tipo peregrino, e o “travel top”, tipo turismo de luxo em resorts e hotéis bacanérrimos com “all inclusive”. Contrariando o nosso bolso, optamos pelo segunda modalidade – afinal, viajar com crianças para o deserto do Atacama, o mais árido do mundo, um local quase inóspito, merecia ser uma experiência especial.
Saímos de São Paulo num sábado pela manhã em voo da Latam direto para Santiago. Quatro horas e meia depois descemos no aeroporto internacional Comodoro Arturo Merino Benítez, e pegamos um outro voo local (também operado pela Latam) por mais duas horas montanha acima até a cidade de Calama. Lá uma van / transfer (anteriormente contratada) nos aguardava para nos levar até a cidade de Santo Antônio do Atacama – o vilarejo com mais infraestrutura e mais perto do deserto propriamente dito. Esse transfer, que dura cerca de uma hora e meia, já percorre as grandes estradas solitárias pelo meio do deserto, onde se pode ver lugares belíssimos como o Valle de La Luna e o Valle de La Muerte.
Chegamos no nosso hotel – Alto Atacama Desert Lodge & Spa – por voltas das 19h, já no início da noite. Sim, viajamos quase o dia todo e as crianças continuavam animadas, apesar do cansaço. Hora de jantar, descansar e dormir, pois no dia seguinte a maratona seria grande. A saber: este hotel fica dentro de um vale rodeado por montanhas rochosas e tem um mirante lindo. O quarto é amplo como uma cabana que acomoda, além do casal, mais duas camas de solteiro ou berço e tem uma pequena varanda privativa. À nossa espera estavam cantil térmico para cada um, lenços umedecidos e pomadas para proteger os lábios.
No dia seguinte nossa aventura foi caminhar pelo Salar de Tara, passeando por lagunas de sal com suas cores saturadas e uma espécie de “blur” no horizonte, efeito da evaporação e da insolação no ar rarefeito. O percurso termina no Lago dos Flamingos.
O guia leva binóculos para que possamos apreciar os animais de perto, mas sugiro que você leve o seu e não esqueça da água, chapéu com abas na parte traseira, muita pomada labial e protetor solar – o local é muito árido.
À tarde, também de van e depois por um longo trecho a pé, caminhamos pelo Valle de La Luna (Vale da Lua), repleto de imensos cânions que transmitem a sensação de que você está em outro planeta ou na Lua, por causa da suas formações rochosas brancas com formatos interessantes, cavernas e grutas.
Um grande número de turistas e guias transitam pelo local, meditando, fotografando, apreciando montanhas e se acomodando para ver o espetáculo do pôr do sol.
Durante o dia chegou a fazer 24ºC graus, e, à noite, 4ºC . Além dos itens já mencionados, não esqueça de levar um gorro, cachecol e uma boa jaqueta. O vento nas montanhas do Atacama é lacerante. Opte por levar botas leves para os pequenos, já que os tênis enchem de areia com o vento do deserto. E esqueça qualquer possibilidade de roupas fofas ou com frufrus: elas voltam tão sujas depois de um dia no deserto que, acredite, você pensa seriamente em jogá-las no lixo.
A noite é hora de ver as estrelas. Quase todos os hotéis têm observatórios e passeios guiados para admirar as constelações. Afinal, o Atacama é considerado um dos melhores lugares do planeta para observação do céu, devido a suas condições favoráveis, como os mais de 2.400 metros de altitude, sem chuva, baixa umidade e pouca luminosidade artificial. O que atrapalha mesmo é o vento forte que, no nosso caso, impediu uma observação mais longa. Mesmo assim os pequenos viram a Via Láctea e outras constelações a olho nu. Para finalizar a noite, o hotel promove uma degustação de vinhos chilenos e comidas típicas (tudo all inclusive!).
Na manhã seguinte partimos de van rumo às montanhas do Vale do Arco-Íris, onde fica um sítio arqueológico com pinturas rupestres. O longo percurso de quase uma hora pelo deserto é exuberante, e pelo caminho cruzamos por rebanhos de lhamas, vicunhas, alpacas, guanacos e burros, todos selvagens (as crianças adoraram!). Essas pinturas rupestres são bem concentradas em pedras rochosas onde é possível escalar, mesmo com crianças pequenas (naquele esquema, um segura o outro faz a ponte e vamos indo montanha a cima). Após as explicações históricas sobre o local, seguimos para um passeio mais geológico por meio de vales e montanhas frutos de erosões milenares. As crianças foram muito bem com água, barrinha de cereal e muito protetor solar. A saber: em todas as paradas nos pontos turísticos há uma espécie de quiosque com banheiros, água potável, assentos e um local para informações. Os guias também carregam nas vans água e barra de cereal para os passageiros.
Durante toda a viagem ao Atacama vimos muitas pessoas – inclusive crianças a partir dos 10 anos – fazendo grandes percursos de bicicleta que são disponibilizadas pelos hotéis. Nossa aventura não chegou a tanto: preferimos caminhar mesmo com uma pequena de 3 anos; assim as crianças puderam coletar pedras, tocar em plantas e até sentir a areia quente do deserto.
A verdade é que mesmo sendo um lugar lindo, seguro e muito amistoso, existem passeios que não são permitidos para crianças – como os Gêiseres de El Tatio, local em que jatos de água fervendo saltam de dentro da terra criando um caminho incrível, ou as Lagunas Altiplânicas, que ficam a cerca de 4.500 metros de altitude, onde a alta pressão atmosférica no corpo pode ocasionar mau estar, dor de cabeça e vômitos. Mas acredite, mesmo com essas restrições você pode aproveitar muito a viagem com os pequenos. Nós adoramos! Depois do Atacama partimos para mais 5 dias em Santiago.
Road trip em família ao Deserto do Atacama
No início de 2017 uma turma de amigos foi do Rio Grande do Sul até o Atacama de carro – levando junto o Nicolas, de 11 anos. E eles contaram para o site como foi a experiência!