Primeiro dia na China, o país que mais gerava ansiedade em nossa trip, por motivos diversos: língua, cultura, alimentação, hábitos.
Estamos no hotel na cidade de Nanning. No décimo andar de um edifício de pelo menos vinte. E queremos tomar um café no quarto.
Depois de caminhar um bocado durante o dia e de (infelizmente) encontrar o Starbucks mais zoneado, sujo e demorado de nossas vidas, e de tomar um Grandi aguado e morno, queríamos mesmo tomar um café solúvel, preto e quentinho, sentados na cama. Para constar: adoramos o Starbucks, mas aquele lá foi no mínimo complicado.
Uma coisa legal que encontramos na Ásia em todos os hotéis é que tem uma chaleira elétrica em todos os quartos. Então, com o café solúvel que tínhamos guardado ao longo da viagem, conseguiríamos matar a saudade…
Vou até o 19º andar, onde o restaurante chique do hotel, com vista com mais de 180 graus para a cidade, está instalado. Chego com bermuda velha, camiseta e chinelo. O gerente e duas mulheres conversam em uma das mesas, próximo à entrada do restaurante.
Ao me ver, o gerente se horroriza: um turista, com xícara na mão e chinelo de dedos, entrando no restaurante? Levanta-se e começa a me empurrar – delicadamente, é verdade – para a porta. Uma das mulheres intervém e eu explico que estou em busca de açúcar. Ela traduz e ele, apressado, me leva até a cozinha, onde um funcionário janta e outro lava a louça – em bacias no chão.
Me serve duas colherinhas rasas do produto branquinho, eu peço mais e ele me indica para servir. Completo com mais umas quatro colheradas e ele volta a me empurrar para a porta – sempre falando em chinês, que os chineses falam em chinês conosco como se entendêssemos tudo.
Vou embora com um misto de estranheza, curiosidade e irritação. Que coisa.
Volto para o quarto, conto rapidamente a história enquanto a Josi prepara o café. E dá o primeiro gole.
Em um café salgado!! O cara me deu sal!!!!!
Tchê, que raiva. Fiz um inimigo na China. Esse loco que não me apareça aqui no Rio Grande do Sul. Entrego uma costela açucarada para ele!