No final de 2014, o jornalista porto-alegrense Marcelo Bender da Silva, analista de comunicação na Martha Becker Comunicação Corporativa, foi com a mulher, Lucille Bouleau da Silva, e com o filho Lucas, na época com 3 anos, para Paris. A família conta aqui a aventura de correr atrás do pequeno pelas ruas da capital da França, na Europa.
No final de 2014, decidimos visitar a família da Lucille, minha esposa, em Paris. Ela é francesa e aproveitamos a ida de grande parte da família dela pra lá para organizar um raro momento de reunião de todos na cidade-luz. Realmente um milagre, já que pai, mãe e irmãos moravam cada um em um continente diferente, sem jamais deixarem de serem unidos. Viva o Skype! Era um momento muito importante pra ela, que teria a chance de abraçar a todos depois de muitos anos longe. Para mim, era a oportunidade de finalmente pisar na Europa, conhecer o restante da família dela e a bela cidade, além de apresentar ao Lucas a terra natal da família dele pelo lado materno. E que família querida encontramos por lá!
Aí foi juntar os pilas, organizar as datas com todos e comprar as passagens pra nós três. Na época, o Lucas tinha 3 anos. Tem a famosa história dos terrible two, crianças que são difíceis aos 2 anos de idade. O Lucas sempre foi terrível. Aos 2, 3, 4 e, agora, aos 5. Mas nunca o considerei difícil. Correr para todos os lados pra onde o nariz apontar. Pular com empolgação em cima do sofá ou da cama com os pés todos sujos. Colocar as mãos na areia, na terra ou sei lá onde mais e depois limpar na própria camiseta. Não conseguir parar por 5 minutos sentado para fazer uma refeição com calma. Tudo isso o torna uma criança fácil. Ser cheio de saúde e disposição para fazer bagunça, brincar, descobrir o mundo e enfrentar tantos desafios inéditos todos os dias certamente facilita a vida dos pais, mesmo que isso pareça cansativo. Uma criança difícil, na minha opinião, é aquela que, infelizmente, não consegue fazer tudo isso.
Mas viajar à Europa com um filho que bateu na trave para ser hiperativo – se é que esse diagnóstico realmente existe – era uma tarefa complicada e que exigiria um bom planejamento. Exigiria doses extras de paciência e criatividade para encarar os perrengues numa boa. Logo de cara, partiríamos em um voo direto de Porto Alegre a Lisboa. Dez horas dentro do avião e a preocupação de não estragar a viagem de todos com a impaciência do Lucas.
Por sorte, o voo era noturno e conseguimos dormir durante boa parte do trajeto. Graças, também, ao excelente avião da TAP e nossa posição nos assentos centrais com diversas poltronas livres à nossa volta. Porém, na nossa conexão entre Lisboa e Paris, já com o sol alto e uma criança com as baterias recarregadas, acabamos passando por um certo constrangimento. Ele queria cantar músicas a plenos pulmões num voo das oito da manhã, quando todos certamente queriam dormir. Contornamos a situação. Minimizamos o dano aos demais passageiros e chegamos sem maiores problemas ao nosso destino.
Antes de viajar, confesso, compramos aquelas mochilinhas de animas que vêm com uma longa cauda. Sim, parece uma coleira. Naquele momento, o Lucas tinha umas loucuras de sair correndo do nada quando se sentia entediado em algum lugar. Em um piscar de olhos, o guri sumia de um restaurante ou de um supermercado correndo como o Usain Bolt. Pensamos que, se isso acontecesse no metrô de Paris, poderia acabar bem mal. E não sentimos um pingo de vergonha em segurá-lo pela cordinha quando estávamos em lugares muitos lotados.
O equipamento nos poupou de muitas “escapadas”. Ele vivia uma fase meio sem medos, sem muita noção de conseqüências e perigos. Tivemos apenas um episódio em que fui buscá-lo já na calçada, quando ele decidiu dar uma corrida e conhecer melhor a cidade, sozinho, durante um almoço com toda a família em um restaurante. Apesar do susto, conseguimos conter nosso desbravador de 3 anos numa boa durante a viagem.
Cumprimos todo o roteiro tradicional com ele. Todos de metrô. Arco do Triunfo, Champs Élysées, Torre Eiffel, Museu do Louvre, passeio de Bateau Mouche pelo Sena – que deveria ser obrigatório pra quem desembarca em Paris -, Pont des Arts (a ponte onde os casais deixam seus cadeados), o Zoo de Vincennes, o castelo de Vincennes, o Jardin des Plantes, e ainda conseguimos passar um dia na Disney. Comprar os tickets antecipados pela internet para a Torre Eiffel e a Disney foram excelentes ideias. Nos poupou tempo em filas e a paciência do nosso pequeno. Faça isso se decidir fazer esse roteiro. Especialmente com crianças.
Na torre haviam sido instalados novos pisos de vidro nas plataformas mais altas de visitação. Muitos adultos estavam morrendo de medo de caminhar sobre a estrutura. Dava mesmo uma sensação estranha. É muito alto e ficar sobre aquele vidro vendo as pessoas caminhando nas filas gigantes lá embaixo dava um pavorzinho. Mas o Lucas não estava nem aí. Sentou-se, enterrou os olhos no vidro e ficou curtindo a novidade.
A única atração famosa que conhecemos sem ele foi o Moulin Rouge, quando o deixamos com a vó e fomos com amigos curtir a noite de Paris. Por sinal, conseguimos ir pra night por duas vezes. Vantagem de ter toda a família na volta durante a nossa trip. Na segunda noite, saímos para encontrar um amigo de Porto Alegre, que estava morando em Dublin, quando aproveitou pra conhecer Paris e nos encontrou por lá.
Para finalizar nosso roteiro, fomos visitar o túmulo onde está descansando a vó da Lucille, no famoso cimetière du Père Lachaise. Por coincidência, o mesmo cemitério onde Jim Morrison está enterrado. Tive a honra de poder também visitar o “santuário” de um dos meus maiores ídolos do Rock n’ Roll.
Sobre a maior desvantagem de estar em Paris com nosso filho de 3 anos: caminhar. Caminha-se muito para conhecer a cidade. Entre as estações de metrô e as inúmeras atrações que uma cidade como Paris oferece, acumulam-se longas caminhadas. Nos túneis das estações, no retorno do metrô pra casa. E nessa idade ele caminhava uma quadra e pedia colo. Ainda bem que minha forma física andava em dia. Carreguei ele no colo por boa parte dos nossos passeios.
Toda essa caminhada com peso extra compensou bem as cervejas excelentes e baratas que eu comprava no mercado pra tomar à noite, para acompanhar os rangos deliciosos que o tio da Lucille preparava. O tio dela, nosso anfitrião, é chefe de cozinha e teve o próprio restaurante durante muitos anos. Já aposentado, nos brindava com suas habilidades a cada refeição. Pensa em rango bom! As caminhadas com o Lucas no colo eram cansativas. Mas evitaram que eu retornasse com 5 quilos a mais na bagagem, digo, na barriga.
Depois de cerca de dez dias por lá, chegou a difícil hora de retornar. Não tivemos a mesma sorte nos vôos da volta como no da ida. Eram dois voos diurnos. Saímos de manhã cedo de Paris em direção a Lisboa. Voo curto. Fácil. Tranquilo. Sem cantorias desta vez. Mas ao embarcar na conexão de Lisboa em direção a Porto Alegre, foi impossível manter nosso corredor sentado na poltrona por longos períodos. Mesmo com a tela individual do avião cheia de opções de desenhos e filmes, mesmo com as comidinhas de todos os tipos, ele queria se mexer.
Acredito que a Lucille e eu caminhamos mais de dois quilômetros pelos corredores do avião com ele durante as dez horas de voo. Acha que nos incomodamos com isso? Claro que não. Quem viaja com uma criança de 3 anos e cheia de gás tem que estar preparado pra este tipo de coisa. Ainda mais quando essa criança é o Luquinhas! E não dá pra amarrar a criança no assento (mesmo que às vezes desse vontade!). E ele é mal educado por causa disso? De forma alguma. Quem o conhece, sabe que ele não é. Ele é uma criança super ativa, que não consegue ficar sentada por dez horas numa poltrona de avião. Pra gente já é um saco. Imagina pra ele.
Podemos afirmar com toda a certeza que nossa primeira trip longa com o Lucas foi a melhor viagem a turismo das nossas vidas! O Lucas curtiu demais cada segundo! Eu fiquei felizão em poder conhecer com ele uma grande parte da família da Lucille, que ainda não conhecia. Pra ela então, foi um momento único e de alegria extrema poder rever a família quase toda reunida depois de tanto tempo vivendo no Taiti, Nova Caledônia e Austrália, país onde nos conhecemos e iniciamos nossa história juntos, em 2009.
Agora que o Lucas está com 5 anos, estamos planejando uma outra viagem. Bem longa. Pode ser que aconteça no ano que vem. Talvez em 2019. E pode até ser no return. Ainda bem que ele parou de sair correndo por aí sozinho feito o Usain Bolt!
Quer saber mais sobre a experiência de ir à Europa com uma criança pequena? Leia aqui.